Quarta-feira, 22 de Outubro de 2008

Péricles e o elogio da democracia ateniense

“O nosso sistema político não inveja as leis dos nossos vizinhos, pois temos mais de paradigmas para os outros do que de seus imitadores. O seu nome é democracia, pelo facto da direcção do Estado não se limitar a poucos, mas se estender à maioria; em relação às questões particulares, há igualdade perante a lei; quanto à consideração social, à medida em que cada um é conceituado, não se lhe dá preferência nas honras públicas pela sua classe, mas pelo seu mérito; nem tão pouco o afastam pela sua pobreza, ou pela obscuridade da sua categoria, se for capaz de fazer algum bem à cidade.

(…) Além disso, pusemos à disposição do espírito muitas possibilidades de nos repousarmos das fadigas. Temos competições e sacrifícios tradicionais pelo ano fora; e usufruímos de belas casas particulares (…). Devido à grandeza da cidade, afluem aqui todos os produtos (…) e acontece que desfrutamos dos bens locais com não menos abundância (…).
Em resumo, direi que esta cidade, no seu conjunto, é a escola da Grécia.”   
 
Discurso de Péricles, citado por Tucídes em A Guerra do Peloponeso (século V a.C.), in Claude Mossé, As Instituições Gregas, Lisboa, Edições 70, 1985, p. 53
Publicado por História às 11:26
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Terça-feira, 21 de Outubro de 2008

Das tiranias à Democracia

“A insegurança social abre caminho à tirania, na qual um homem sobe ao poder pela força, com o apoio da classe comerciante.

A tirania é um regime político que se encontra em qualquer período da história grega, mas, como fenómeno preponderante e generalizado, pode considerar-se típico da Época Arcaica – exceptuarmos a cidade de Esparta, que manteve sempre a sua monarquia dualista. Geralmente, esta tirania não reveste, no entanto, o carácter odioso que para sempre lhe ficou adstrito quando, após a Guerra do Peloponeso, os Trinta Tiranos governaram Atenas.
(...) Os tiranos comportavam-se em geral como déspotas esclarecidos. Rodeavam-se de poetas (...).
Em Atenas, cuja tirania foi, por mais surpreendente que pareça, das últimas a acabar, acção dos Pisístratos é notável. Fazem grandes obras, quer na Acrópole, quer na Ágora e principiam o templo colossal de Zeus Olímpico (…); abastecem de água a cidade; tomam medidas económicas importantes, como os empréstimos aos lavradores em dificuldades; efectuam reformas religiosas, de grande projecção cultural também, como a reorganização das Panateneias, com a recitação dos Poemas Homéricos, e a instituição das Grandes Dionísias, junto das quais nascerá o teatro.”
 
Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega, 1998
Publicado por História às 11:13
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Sexta-feira, 17 de Outubro de 2008

Hesíodo e os novos caminhos da mentalidade grega

Provavelmente no final do séc. VIII a.C., surge um poeta que compõe várias obras, de que só chegam até nós a Teogonia e os Trabalhos e Dias.

Estas representam qualquer coisa de inédito até então: “o poeta fala de si, dá o seu nome e profissão, alude à sua experiência pessoal. Já não é alguém escondido por trás da poesia impessoal que é a epopeia, mas alguém que se sente um indivíduo destacado dos demais. […]”
Além disso, Hesíodo distingue-se ainda pela “noção da função didáctica da sua poesia, e se, como Homero, invoca as Musas, só ele especifica que é a verdade que vai ensinar.
O didactismo ficará como típico de Hesíodo.
Na Teogonia conta as origens do mundo e dos deuses. Do Chaos (abismo), bem como da Terra e de Eros, sem que sejam claras as ligações entre eles, saem as primeiras divindades. […] Tais seres vão-se individualizando aos poucos, até estarmos na presença de deuses. Depois vem Uranos, ao qual sucede Cronos, e a estes Zeus, que sucessivamente se mutilam e destronam.”
 Hesíodo terá sido influenciado por lendas orientais: hititas, babilónicas e fenícias. A transmissão terá sido feita em tempos minóicos e mantida até ao tempo do poeta.
Na versão de Hesíodo “não se trata apenas de uma sucessão violenta de vários soberanos dos céus, há um caminho ascensional para a ordem estabelecida por Zeus, que é o triunfo da Justiça.”
No que diz respeito à obra Trabalho e Dias, conhecem-se textos didácticos parecidos, de origem suméria, babilónia, egípcia, em que um pai ensina ao filho preceitos de agricultura ou de outra ordem, ou em que um filho bom constrasta com outro dissipador.
Neste segundo poema, Hesíodo tenta reconduzir ao bom caminho seu irmão Perses.
“O poeta faz o elogio do trabalho e da justiça. Depois fornece minuciosos ensinamentos sobre a agricultura, a que se junta algumas dezenas de versos sobre a navegação. Segue-se uma série de preceitos sobre o comportamento a adoptar para com os outros e consigo mesmo, e por último a enumeração dos dias propícios e nefastos às diversas actividades, em que impera a superstição.
O cenário da parte central do poema é a natureza. Não a natureza objecto de gozo ou felicidade, mas o teatro da constante luta da humanidade. O herói agora é o homem, que trabalha duramente. Esse trabalho é digno, e conduz à superioridade.
Outro eixo do mundo moral de Hesíodo é a justiça, que distingue homens dos animais.
É graças a ambos que se chega ao mérito […].
Podemos ainda reconhecer-lhe dois grandes feitos: a tentativa de codificação de lendas divinas e a aplicação da técnica épica aos actos da vida diária. […]
Mas nem tudo é enumeração de preceitos ou exortação neste poema. Também aqui há outros processos de expor a verdade: a fábula ou o mito […].
O primeiro mito, o de Pandora, propõe-se explicar as origens do mal […]. O outro mito é o das Cinco Idades, que procura explicar a degeneração da humanidade. […]
Com a poesia de Hesíodo ficam abertos muitos caminhos novos à mentalidade grega.”
 
Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega
Publicado por História às 02:39
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Segunda-feira, 13 de Outubro de 2008

Homero, Educador da Grécia

“Os poemas homéricos exerceram uma influência tão grande que não pode compreender a cultura grega quem deles não tenha algum conhecimento.

Muito cedo começou a sua difusão.
A princípio eram transmitidos oralmente e escutados em ocasiões festivas […].
A cantados ao som da cítara ou recitados, podem ouvir-se no festival das Panateneias ou em concursos. E são aprendidos nas escolas […].
Por tudo isto é que Platão, na República, dá como opinião corrente no seu tempo que Homero fora o educador da Grécia.
Aristóteles declara na Poética que na Ilíada e Odisseia está o embrião da tragédia, como no Margites estava o da comédia. […]
O texto homérico servia até para apoiar reivindicações territoriais […].
A partir dos Sofistas, a Ilíada e a Odisseia eram consideradas uma espécie de enciclopédia. E os filósofos e mestres helenísticos caem no exagero de as interpretar alegoricamente. Por exemplo, os errores de Ulisses eram os trâmites por que passava a alma humana. Por tal processo, acabam por ver nas epopeias um manual de filosofia.
A influência nos ideais, propondo à admiração dos ouvintes a coragem de um Aquiles […] pela sua moral heróica da honra. […] Esse valor do paradigma, exercem-no os próprios Poemas sobre as gerações subsquentes.”
 

Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega.

Publicado por História às 02:36
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Sexta-feira, 10 de Outubro de 2008

Os Poemas Homéricos

"Se considerarmos a Odisseia em face da Ilíada entre as semelhanças, pode apontar-se que os conceitos éticos, as normas de convívio social, o respeito pelos suplicantes e hóspedes são iguais. O fundo arqueológico e linguístico é parecido. Os processos literários são idênticos ; a ambos é comum a maneira quase visual de descrever as mais simples acções.

Mas há divergências (para além das que resultam da diversidade do tema) que não podem deixar de se assinalar. Essas são de carácter religioso, ideológico, arqueológico e linguístico.

Os deuses são, com efeito, os mesmos, mas o conceito de divindade depurou-se, no sentido de um progressivo afastamento humano.

Temos na Odisseia, pela primeira vez, as noções correlativas de culpa e castigo e de justiça. [...] Os deuses são agora justiceiros. A insolência dos pretendentes, a quem falta a vergonha, é punida. [...]

A justiça parece equivaler ao temor dos deuses [...].

Outra novidade é a presença de uma personalidade em desenvolvimento [...].

O gozo na contemplação da natureza [...], é também novidade da Odisseia.

Podemos acresentar-lhe outra menor, mas bastante significativa, que é a evolução no trato com os animais.

 

Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega.

 

http://www.youtube.com/watch?v=PMK8LIEoBkc 

Publicado por História às 00:49
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Idade do Bronze: Civilização Minóica e Micénica

"É muito conhecido o perfil do extremo da Península Balcânica, com os múltiplos recortes da sua costa, o acidentado dos seus relevos, a escassez de águas, a pobreza do solo. Mas, por outro lado, um clima mediterrâneo e grande facilidade de comunicações por mar. O mar é o traço de união entre as várias partes que compõem o mundo helénico: Grécia continental, Grécia insular e Iónia, nas costas da Ásia Menor, e ainda as muitas colónias que sucessivamente se vão espalhando pelo Mediterrâneo.

Mas isso é posterior. A princípio, o mundo grego é mais limitado. Podemos dizer que, na Idade do Bronze, três civilizações que florescem quase simultameamente em Creta, no Continente e nas Ilhas do Mar Egeu. [...]

Destas civilizações, a mais evoluída seria a minóica. Da Creta antiga conhecia-se a lenda do Minotauro. [...] Esta esplendorosa civilização distingue-se pelo requinte nas artes (belas pinturas a fresco, com relevos, estatuetas, gemas de ouro trabalhadas, e cerâmica decorada com motivos animais e vegetais), grandiosos palácios (com colunas a afunilar para a base e com engenhosas soluções para a iluminação interior e esgotos) e conhecia a escrita. [...]

Com a ascenção dos Micénicos, os Minóicos acabam por ser dominados.  Porém, o seu legado vive no sistema de escrita micénico e na arte da pintura. [...] Os Micénicos são um povo guerreiro, que parece ter vindo do norte da Europa, a avaliar pelo seu tipo físico (altos e loiros, em oposição aos Minóicos). [...]

Em 1100, a invasão dórica vêm por termo a toda esta prosperidade . [...]

Depois da «Idade Obscura», que ocupa o séc. X, IX e parte do VIII, surge o renascimento da cultura: a primeira Olimpíada, em 776 a.C.; a valorização do oráculo de Delfos; e a introdução do alfabeto. E, além disso, o maior de todos os monumentos: os Poemas Homéricos."

 

Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos da História da Cultura Clássica, Vol. I, Cultura Grega.

 

http://www.youtube.com/watch?v=cyvNgDMZEdw

http://pt.wikipedia.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_min%C3%B3ica

Publicado por História às 23:24
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Externato Luís de Camões

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