Aprendizagens e competências a desenvolver:
"A nossa constituição não tem nada a invejar às leis que regem os nossos vizinhos. Nós não imitamos os outros, damos o exemplo a seguir. Porque o nosso Estado é administrado no interesse da maioria (...), o nosso regime tomou o nome de democracia. No que respeita às questões entre particulares, a igualdade é assegurada a todos pelas leis. No que diz respeito à participação na vida pública, todos são considerados em razão dos seus méritos e a classe a que se pertence importa menos do que o valor pessoal de cada um. Ninguém é prejudicado pela nobreza e pela obscuridade da sua condição social se pode prestar serviço à cidade.
Sendo livre no que respeita à vida pública, somo-lo igualmente nas relações quotidianas. Cada qual pode dedicar-se aos seus prazeres sem se expor à censura ou a olhares injuriosos (...). A força não intervém nas relações privadas. (...) Obedecemos sempre aos magistrados e às leis, e, destas, principalmente às que garantem a defesa dos oprimidos e que, apesar de estarem codificadas, acarretam para os que as violam um desprezo universal."
Tucídes, História da Guerra do Peloponeso, II
“O fundamento da constituição democrática é a liberdade. Costuma afirmar-se isso, sob alegação de que apenas nesse regime se goza de liberdade; esse é, segundo se diz, o objectivo que visa toda a democracia. Uma das características da liberdade reside em ser governado e governar à vez.
A justiça democrática consiste na igualdade segundo o número e não segundo o mérito. De tal noção de justiça resulta que a soberania estará necessariamente no povo e que a opinião da maioria deverá ser o fim a conseguir e deverá ser a justiça. (…) Como resultado disso, nas democracias, os pobres são mais poderosos do que os ricos: são em maior número e a autoridade soberana está na maioria. Esse é, pois, um sinal de liberdade que todos os democratas colocam como marca do regime (…).
O dramatugo ateniense Sófocles põe na boca de Procne, filha de um lendário rei ateniense e mulher do rei da Trácia, as seguintes palavras:
"PROCNE - Fora de casa do nosso pai, não sou ninguém. Muitas vezes olho a condição das mulheres desta forma: nós somos ninguém. Quando crianças, penso, vivemos a mais doce das vidas em casa do nosso pai. Porque a inocência torna a infância feliz. Mas quando nós, uma vez chegadas à idade da razão e da puberdade, somos vendidas e empurradas para fora da casa dos nossos deuses ancestrais e dos nossos pais (...) algumas para bons lares, outras para maus (...) temos ainda que dar graças e pensar que tudo está bem."
Sófocles (495-406 a. C.), Tereus
“Reconheçamos, pois, que (…) o saber do homem não é o da mulher, que o valor e a equidade não são em ambos os mesmos, como pensava Sócrates, e que a força de um assenta no mando e a do outro na submissão. (…)Em resumo, o que diz o poeta de uma das qualidades da mulher: «Um modesto silêncio faz a honra à mulher» é igualmente exacto.”
Aristóteles, A Política, Livro I
"Os homens têm sobre este ponto sentimentos diferentes: uns não fazem nenhuma confiança na raça dos escravos, levam-nos com o aguilhão e chicote, como animais ferozes, e tornam a sua alma, não somente três, mas dez vezes mais escrava; outros fazem exactamente o contrário. (...)
Devemos tratá-los bem, não somente por eles, mas ainda em vista do nosso próprio interesse. Esse tratamento consistirá em não abusar da autoridade que temos sobre eles e em sermos ainda mais justos, se é possível, com eles que com os nossos iguais."
Platão (428-347 a. C.), As Leis
“A própria natureza assim o quis, dado que fez os corpos dos homens livres diferentes do dos escravos, dando a estes o vigor necessário para as obras difíceis da sociedade, dando a estes o vigor necessário para as obras difíceis da sociedade, e fazendo, contrariamente, os primeiros incapazes de dobrar o seu erecto corpo para dedicar-se a trabalhos duros, e destinando-os somente às funções da vida civil, repartida entre as ocupações da guerra e da paz. (…) Seja como for, é evidente que os primeiros são naturalmente livres e os segundos naturalmente escravos; e que para estes últimos é a servidão tão útil como justa.”
Aristóteles, A Política, Livro I, Cap. II
“Os metecos eram homens livres, gregos e não gregos, (…) findo um determinado prazo de estadia (…) (talvez um mês) o estrangeiro de passagem em Atenas devia obrigatoriamente inscrever-se como meteco, senão era passível de ser vendido como escravo (…) estavam submetidos a diversas obrigações: tinham de pagar ometoikion (imposto sobre os metecos), (…) [outro] imposto para terem o direito de exercer o comércio da ágora (…) tinha igualmente a obrigação de arranjar (…) um patrono, cidadão ateniense que se encarregava de os representar em justiça. Os metecos tinham ainda de se inscrever como estando domiciliados num dos demos da Ática (a maior parte deles habitava em Atenas, e, sobretudo no Pireu, principal centro de actividade económica da Ática) (…). Finalmente, os metecos estavam obrigados, de acordo com a sua riqueza, aos mesmos deveres financeiros que os cidadãos (liturgias, impostos de guerra). Serviam o exército em contingentes separados, (…) serviam igualmente na frota, como remadores. (…)
O meteco não tinha qualquer direito político: não podia tomar parte na assembleia nem no conselho, nem ocupar nenhuma magistratura.”
Michel Austin e Pierre Vidal-Naquet, Economia e Sociedade na Grécia Antiga, Lisboa, Edições 70, 1986, pp. 102-10
“Na cidade viviam umas centenas de famílias de grande riqueza: cidadãos que viviam do rendimento das suas propriedades e, ocasionalmente, do investimento em escravos; não cidadãos [metecos], cuja base da económica era o comércio, a fabricação ou o empréstimo de dinheiro. (…) Os ricos eram essencialmente donos de propriedades à renda, disponíveis para se dedicarem à política, ao estudo ou à simples ociosidade. (…)
Na agricultura e na manufactura, os escravos eram em menor número, sendo excedidos nesses ramos da economia pelos camponeses livres e, provavelmente também, pelos artesãos independentes. Contudo, era nessas áreas produtivas que o significado dos escravos atingia maior alcance, porque libertavam das preocupações económicas, ou até da actividade, os homens que chefiavam politicamente o Estado, bem como, em larga medida, igualmente no plano intelectual.
A maioria dos Atenienses, quer possuísse um escravo, dois ou nenhum, tratavam de ganhar a vida, e muitos deles não conseguiam passar de um nível baixíssimo.”
M. I. Finley, Os Gregos Antigos, Lisboa, Edições 70, 1988, pp. 61-62
Aprendizagens e competências a desenvolver: