"Deus permitiu que a Igreja Ocidental, devido aos seus pecados, fosse derrubada. Surgiram então, na verdade, certos pseudoprofetas (…), que seduziram os cristãos com palavras vãs, compelindo toda a casta de homens, por uma vã pregação, a ir contra os Sarracenos, a fim de libertar Jerusalém. A pregação destes homens foi tão grandemente influenciadora que os habitantes de quase todas as regiões, se ofereceram espontaneamente para a comum destruição. E não apenas homens da plebe, mas também reis, duques, marqueses e outros poderosos deste mundo, acreditando que prestavam assim serviço a Deus. Os bispos, arcebispos, abades e outros ministros e prelados da Igreja uniram-se neste momento erro, precipitando-se nele com grande perigo de corpos e almas. (…)
Porém, as intenções destas pessoas eram diferentes. Algumas, na realidade, ávidas de novidades, iam para saber coisas novas sobre as terras. Outras eram levadas pela pobreza, por estarem em situação difícil na sua casa; estes homens foram para combater, não apenas os inimigos da Cruz de Cristo, mas mesmo os amigos do nome cristão, onde quer que vissem a oportunidade de aliviar a sua pobreza. Houve os que estavam os que estavam oprimidos por dívidas para com outros, ou que desejavam fugir ao serviço devido aos seus senhores, ou que estavam mesmo esperando o castigo merecido pelas suas infâmias. Só com dificuldade se poderão encontrar uns poucos que não tenham dobrado os joelhos a Baal, que tenham sido orientados por um saudável e santo propósito e inflamados pelo amor divino a combater ardentemente e mesmo a derramar o seu sangue pelo Santíssimo. (…)"
“Annales Herbipolensis – Monumenta Germaniae Histórica – Scriptores”, t. XVI, Hannover, 1859, p. 3, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1981
“ (…) Concedemos e confirmamos pela autoridade que nos foi dada por Deus a remissão dos pecados (…) para aqueles que, ajudados pelo intuito da devoção, tomarem a seu cargo e realizarem esta tão santa e necessária obra e tarefa; e que as suas mulheres e filhos, bens e possessões, permaneçam sob a protecção da Santa Igreja. (…) Aqueles que estão onerados com uma dívida a outro e quiserem com o coração puro empreender a santa jornada, não pagarão juros pelos tempos passados. Se eles, ou outros por eles, estiverem ligados por um juramento ou penhor, para pagamento de juros, absolvemo-los pela autoridade apostólica. (…)”
Otto Episcopus Frisigensis, “Gesta Friderici Imperatoris”, I, 35, em Monumenta Germaniae Histórica – Scriptorum, t. XX, Hannover, 1968, pp. 371 e 372, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1981
“Ó crentes! Ponde-vos em guarda! Lançai-vos contra os nossos inimigos em grupo (…).
Àqueles que combatem na senda de Alá, quer estejam mortos, quer estejam vitoriosos, conceder-se-á uma enorme recompensa. (…)
Os que acreditam, combatem na senda de Alá. Os que não acreditam combatem na senda de Tagut: combatei os inimigos do demónio. (…)”
Corão, Sura 4, 73.
"Tudo o que existe nos céus e na terra glorifica Allah; e Ele é o Omnipotente, Omnisciente.
É seu o Reino dos céus e da terra: Ele é o que ordena a vida e o que dá a morte; e Ele tem poder sobre todas as coisas.
Ele é o Primeiro e o Último, o Visível e o Invisível; e é Conhecedor de todas as coisas.
Ele é O que criou os céus e a terra em seis Dias; depois subiu ao Trono. Ele conhece tudo o que entra na terra e tudo o que dela sai e tudo o que desce do céu e tudo o que ele ascende; e Ele está convosco onde quer que vós estejais. E Allah vê tudo o que vós fazeis.
É seu o Reino dos céus e da terra, e a Allah todas as coisas voltam.
Ele faz que a noite penetre no dia e que o dia penetre na noite e Ele conhece os pensamentos dentro dos corações."
Corão, XIX, Sura 57, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais
"Há na realidade dois poderes, muito augusto Imperador, pelos quais este mundo é principalmente governado, a autoridade sagrada dos pontífices e o poder real. Dos dois, o sacerdócio tem o valor mais alto, na medida em que deve prestar contas dos próprios reis em matérias divinas. Fica pois a saber, meu muito clemente filho, que embora presidas com dignidade nos negócios humanos, no que respeita os divinos tens de dobrar a cerviz perante aqueles de quem esperas a salvação e de quem recebes os sacramentos celestiais. Na esfera religiosa tens de te submeter em vez de governar e ceder perante as decisões dos padres de preferência a tentar domá-los à tua vontade. Porque, se no domínio da disciplina pública os padres reconhecem a tua autoridade como vinda de cima e obedecem às tuas leis para que não pareçam resistir em matérias puramente seculares, como não lhes deverás tu obedecer de muito melhor vontade, a eles que estão encarregados da administração dos veneráveis mistérios? (…)"
Papa Gelásio I, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais
“Walafredus, um colonus e mordomo, e a sua mulher, uma colona (…) homens de St. Germain, têm dois filhos. (…) Ele detém dois mansos livres (…) de terra arável, seis acres de vinha e quatro de prados. Deve por cada manso uma vaca num ano, um porco no seguinte, quatro denarios pelo direito de utilizar a madeira, dois modios de vinho pelo direito de usar as pastagens, uma ovelha e um cordeiro. Ele lavra quatro varas para um cereal de Inverno e duas varas para um cereal de Primavera. Deve corveias, carretos, trabalho manual, cortes de árvores quando para isso receber ordens, três galinhas e quinze ovos. (…)”
B. Guénard, “Polyptyque de l’abbé Irminon”, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais
“Não é bastante para a grande honra que pertence ao cavaleiro a sua escolha, o cavalo, as armas e o senhorio, mas é mister que tenha escudeiro e troteiro que o sirvam e cuidem dos seus cavalos; e que as gentes lavrem, cavem e arranquem a maleza da terra, para que dê frutos de que vivam o cavaleiro e os seus brutos; e que ele ande a cavalo, trate-se como senhor e viva comodamente daquelas coisas em que os seus homens passam trabalhos e incomodidades. (…)
Correr em cavalo bem guarnecido, jogar a lança nas linças, andar com armas, [entrar em] torneios, fazer tablas redondas, esgrimir, caçar cervos, ursos, javalis e leões e outros exercícios semelhantes, pertence ao ofício de cavaleiro, pois com tudo isto se acostuma a feitos de armas e a manter a Ordem de Cavalaria. Portanto, desprezar o costume e uso por meio dos quais o cavaleiro se dispõe para o uso do seu ofício é menosprezar a Ordem de Cavalaria.”
Ramon Llull, “Libro de la Orden de Caballeria”, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais