"Em Auschwitz, pelo menos dois milhões e meio de pessoas foram mortas nas câmaras de gás e outro meio milhão morreu de fome e doenças. (...)
Lá trabalhavam dois médicos das S.S. que examinavam todos os que chegavam ao campo. (...) Os aptos para o trabalho ficavam no campo, os outros eram enviados para as câmaras. As crianças de pouca idade eram sempre enviadas para a morte, visto que não podiam trabalhar. Queríamos que toda a acção fosse mantida em segredo, mas o cheiro originado pela incineração dos cadáveres inundava toda a região."
Declaração de Rudolf Franz Hoss no Julgamento de Nuremberga, 1946
"Compenetrado da consciência de que a pureza do sangue alemão é a premissa da perpetuação do povo alemão, e inspirado pelo indomável desejo de assegurar o futuro da nação alemã, o Reichstag aprovou por unanimidade a seguinte lei, que é proclamada pelos presentes:
1. Os casamentos entre judeus e sujeitos de sangue alemão ou assimilado são proibidos.
2. As relações extramaritais entre judeus e sujeitos de sangue alemão ou assimilado são proibidas.
3. Os judeus não podem utilizar no serviço de suas casas as mulheres de sangue alemão ou assimilado com menos de quarenta e cinco anos de idade.
4. Fica proibido aos judeus usar as cores nacionais alemães. (...)
5. As infracções ao n.º 1 serão punidas com pena de prisão. (...)"
J. Carpentier e F. Lebrun, História da Europa
"A nossa concepção racista não acredita de forma nenhuma na igualdade. Pelo contrário, reconhece que há diversidade nas raças e que o seu valor é mais ou menos elevado. Sente assim a obrigação de favorecer a vitória do melhor e do mais forte, de exigir a subordinação dos piores e dos mais fracos.
A cultura e a civilização humanas estão, neste continente, indissoluvelmente, ligadas à existência do Ariano. (...)
A concepção racista corresponde à vontade mais profunda da natureza ao restabelecer o progresso pela selecção. Assim, um dia, uma Humanidade melhor, tendo conquistado o mundo, verá abrir-se livremente para si todos os domínios da actividade. (...)
O Judeu forma o mais marcante contraste com o Ariano. (...)
O Judeu não tem mínima capacidade para criar uma civilização (...). A sua inteligência nunca servirá para construir, mas sim para destruir (...). O progresso da Humanidade cumpre-se, não por ele, mas apesar dele. (...)"
Adolf Hitler, Mein Kampf, 1925
Cartaz de propaganda nazi, anos 30
"O novo movimento é (...) antiparlamentar, ou seja, ele nega o princípio de uma soberania da maioria em virtude da qual o chefe de Governo é rebaixado à categoria de simples executante da vontade dos outros. O movimento defende o princípio de que, nas grandes como nas pequenas questões, o chefe detém uma autoridade incontestada, comportando a mais absoluta responsabilidade. Aquele que quer ser o chefe carrega, com a sua autoridade suprema e sem limite, o pesado fardo de uma responsabilidade total. Só um herói pode assumir esta função."
Adolf Hitler, Mein Kampf, 1923
"1. Constituição de uma Grande Alemanha, reunindo todos os alemães com base no direito dos povos de disporem de si mesmos.
2. Revogação do Tratado de Versalhes. (...)
4. Apenas os cidadãos têm direitos cívicos. Para ser cidadão é necessário ter sangue alemão. Nenhum judeu pode ser cidadão. (...)
6. O direito de voto será reservado exclusivamente aos cidadãos.
7. Criação de um vasto sistema de reformas.
8. Os não cidadãos serão expulsos do Reich, caso o país não possa alimentar toda a população. (...)
22. Criação de um exército nacional. (...)
25. Criação de um poder central forte."
Do Programa do Partido Nazi (1920)
Ben Walsh, Modern World History, 2002
"Para nós, o Fuhrer era o máximo que existia – as pessoas adoravam-no... reagiam a ele como sucede hoje com um artista pop... Os anos de paz em Berlim foram o melhor tempo da minha vida... Veja-se a quantidade de apartamentos que os nazis construíram para os trabalhadores – a indústria foi reconstruída."
Tom Buchanan, "Política e Poder", em O Século do Povo, Ediclube, 1997
"Esses filhos semi-órfãos da desordem, da guerra e da inflação, (...) crescendo sem nenhuma assistência, sem nenhum sustento certo, precisavam do cuidado especial da sociedade. Em vez disso, eles (...) eram as primeiras vítimas do reajuste social. Ao atingirem a idade activa, não encontravam, para seu desânimo, nenhum emprego disponível. O jovem químico, engenheiro, professor, advogado, médico, especialista de qualquer ramo, mesmo o artesão, encontrava o caminho barrado pelo pai ou pelo irmão mais velho. Na luta moral pelos empregos, (...) os inexperientes eram inevitavelmente derrotados. E o ódio dos deserdados avolumava-se monstruosamente.
Era um esplêndido material para o radicalismo político. (...) A jovem Alemanha era, sem dúvida, uma presa fácil para um demagogo patriota."
Edgar Mowerer, correspondente em Berlim do Chicago Daily News, no seu livro A Alemanha Atrasa o Relógio, 1933
"Em 1930, os numerosos partidos políticos lutavam entre si, numa grande desordem. Nós, os da firma Krupp (indústria de armamento), não somos idealistas, mas realistas. Inicialmente, votámos nos conservadores, mas eles eram demasiado fracos para poderem governar o país.
Nesta luta pelo pão e pelo poder, tínhamos necessidade de uma mão forte e dura como a de Hitler. Queríamos um regime que nos permitisse trabalhar em paz."
Declarações do industrial alemão Krupp no processo de Nuremberga (1946)
"A crise económica provocara danos asssustadores. Reduziu a nada o dinheiro acumulado durante décadas de trabalho árduo. (...) As notas eram usadas como combustível para os fornos. Nos restaurantes, as pessoas pagavam a refeição antes de comerem, pois os preços podiam aumentar antes de chegarem ao café. Outros iam à padaria, transportando as suas poupanças num carrinho de mão. (...) Muitos alemães culparam o governo quando a subnutrição, a fome, o medo e o desespero se transformaram na realidade quotidiana, não apenas para aqueles que já conheciam os efeitos da pobreza, mas também dos que estavam habituados à abastança."
G. Hodgson, O Século do Povo
"Para o fascismo, o Estado é absoluto: perante ele os indivíduos e os grupos não são mais que o relativo. Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.
(...) O indivíduo só existe enquanto está no Estado: está subordinado às necessidades do Estado e, à medida que a civilização toma formas cada vez mais complexas, a liberdade do indivíduo restringe-se sempre mais. (...)
Neste sentido, o fascismo é totalitário (...). Nem partidos, associações, sindicatos nem indivíduos fora do Estado. (...)
Nós representamos um princípio novo no Mundo, representamos a antítese nítida, categórica, definitiva da democracia (...)."
Benito Mussolini, O Fascismo, 1931
"Deves saber que o Duce é como o Pai Eterno: manda produzir cinco milhões de toneladas de trigo e é preciso produzir cinco milhões. Manda ter muitos filhos e é preciso ter muitos filhos. Se não há trabalho, manda que o haja. Estás a ver agora como ele é como o Pai Eterno. Além disso, fulmina com o seu olhar aqueles que não lhe obedecem e manda persegui-los porque não gosta de abusos."
D. Biondi, Viva il Duce, 1930
"Eu, que nasci em 1932, vivi debaixo do fascismo até aos treze anos. Não o suficiente para ser um protagonista, mas o bastante para perceber muitas coisas (...).
Eu ouvia as histórias que as pessoas, no dia a seguir à marcha sobre Roma, tinham encolhido os ombros e dito: «Talvez esse homem saiba impor finalmente alguma ordem neste país».
Quando um primo do meu pai, socialista convicto, vinha jantar connosco de vez em quando no Verão, a minha mãe ia a correr fechar as janelas, com medo que alguém ouvisse as enormidades que ele dizia. (...)
Houve quem optasse pelo exílio e algumas pessoas foram trabalhar como pedreiros para o estrangeiro."
Umberto Eco, A Passo de Caranguejo
"As referências ao passado são utilizadas pela propaganda fascista para a construção de uma certa ideia de pátria, que assenta num nacionalismo primário, defende valores como a raça e incentiva a crença na superioridade cultural de determinados povos relativamente a outros. O fascismo promove o culto do chefe, que concentra em si todos os poderes, recusando o parlamentarismo e as liberdades individuais.”
Considera os regimes demoliberais decadentes e permissivos e causa última da instabilidade vivida na Itália e Alemanha nos anos anteriores ao fascismo. Para além disso, acredita que estes regimes, por causa da sua permissividade, perderão a luta contra a ideologia comunista. (…)
Os apoiantes do fascismo são, essencialmente, as classes médias, a quem o medo da anarquia ou o espectro da tomada de poder por parte dos comunistas assusta. A propaganda fascista sabe aproveitar-se desses medos e convencer uma parte substancial da população de que o regime fascista é o único que a consegue defender de forma eficaz. A propaganda torna-se um dos instrumentos mais poderosos ao serviço do fascismo."
Helena Veríssimo, Mariana Lagarto, Miguel Barros, Nova Construção da História, Edições ASA
Identifique os princípios do fascismo patentes na fonte.
"Se a complexidade do fascismo é patente a todos os níveis, o problema das suas origens não será menos controverso. Tem sido desde há muito considerado como um produto dos choques consecutivos da guerra e do pós-guerra. (…)
A guerra é uma etapa perfeitamente decisiva, que assinala o fracasso dos valores humanistas, radicaliza a ruptura entre as oligarquias dirigentes e as massas, operando simultaneamente uma mistura de categorias sociais nociva às antigas hierarquias.
A crise do pós-guerra vai seguidamente acelerar o processo de decomposição social e ideológica da democracia liberal pela conjugação de dois factores essenciais: a inflação, que intensifica a proletarização da classe média iniciada com a guerra, e a ameaça bolchevista, que leva as classes dirigentes a apostarem no fascismo como força de substituição ao Estado liberal decadente. A crise económica de 1929, reabrindo as feridas mal saradas do pós-guerra e suscitando com o desemprego novas categorias de marginalizados, tem idênticas consequências do ponto de vista político. Nos países vencedores, que encontram precisamente a vitória uma justificação das suas instituições democráticas, estas crises são ultrapassadas com relativa facilidade. Inversamente, o fascismo é uma resposta à frustração nacional resultante de uma derrota (Alemanha), de uma vitória incompleta (Itália) ou mesmo de uma situação de sujeição no seio de um Estado democrático (Croácia, Eslováquia)."
Bernard Droz e Anthony Rowley, História do Século XX, Publicações D. Quixote
Refira os aspectos que, de acordo com os autores da fonte, conduziram à emergência do fascismo.
Habitantes de Kentucky aguardam, numa fila, a distribuição de alimentos pela Cruz Vermelha (1937)
"Para incitar os empresários a investir acena-se-lhes com o crédito fácil, a política do dinheiro fácil. Alguns aproveitam a facilidade do recurso ao crédito que lhes é concedido, não para criarem novas empresas, mas sim para especularem: compram-se acções na bolsa a contar com uma alta das cotações. A verdade é que quanto mais os especuladores compram, mais as acções sobem. Sem se darem bem conta do que haviam feito, nas vésperas de 1929, os bancos tinham emprestado somas enormes a especuladores que só poderiam reembolsá-los se se mantivesse, indefinidamente, a espiral crescente das cotações em Wall Street."
Jean-Luc Chalumeau, O Capitalismo, Publicações Dom Quixote
"A crise torna-se, a partir do crash de Wall Street, uma crise mundial, o que demonstra como a América se vai transformando, aos poucos, na locomotiva da economia capitalista. As repercussões sociais desta crise, são, também, mundiais, afectando todos os países, com economias pouco desenvolvidas e diversificadas, que fornecem matérias-primas aos EUA e à Europa. (…) Por todo o lado falem fábricas por falta de compradores. Por todo o lado instala-se o desemprego, e as dificuldades económicas das populações agudizam-se. A fome, que parecia uma realidade passada, reemerge. Nos EUA, põe-se em questão o American way of life, instalando-se dúvidas quanto à validade do modelo capitalista tal como é aplicado. Este modelo incentivou, nos anos da pseudo prosperidade, a um consumo desenfreado, concedendo créditos ao consumo privado de forma pouco criteriosa e as pessoas que não possuíam capacidade de endividamento. Quanto mais se consumia, mais os bancos emprestavam, numa espiral que só podia conduzir a um fim – a ruptura do sistema financeiro e, consequentemente, produtivo, logo que as dificuldades financeiras começaram a emergir (as pessoas não pagavam aos bancos o que lhes deviam e deixaram de consumir por não terem meios para tal).
Com a retracção do consumo privado, as empresas vêem-se com uma enorme quantidade de stocks invendáveis por causa da falta de liquidez financeira dos consumidores. Milhares de empregos desaparecerem em pouco tempo por já não se justificarem em época de retracção económica. Os bancos, com falta de confiança na capacidade de pagamento de quem pede empréstimos, encerram as linhas de crédito, restringindo ainda mais o consumo. A falta de dinheiro no sistema leva-os a retirar os créditos concedidos a muitos bancos europeus e a não efectuar novos empréstimos. Ora, o sistema bancário baseia-se, em grande parte, nos empréstimos concedidos pelos bancos com maior capacidade financeira aos de menores capacidade. Muito bancos europeus, dependentes de créditos americanos entram em ruptura. Os níveis atingidos por Wall Street em 1929 só são retomados em 1954."
Helena Veríssimo, Mariana Lagarto, Miguel Barros, Nova Construção da História, Edições ASA
Caracterize a crise económica dos anos 30.
"Os anos 20 (1924-1929) foram anos de prosperidade. O American way of life invadiu a Europa. Aos benefícios da sociedade de consumo associou-se a busca de prazer e a evasão e intensificou-se a vida nocturna. Os teatros, os cinemas, os night-clubs e outras salas de espectáculos e de jogos das grandes cidades tornaram-se locais habitualmente frequentados. As novas bebidas (cocktail), as novas músicas (jazz) e as novas danças (charleston, lambeth walk, swing e rumba) passaram a animar a vida nocturna. Rallies de automóveis, corridas de carros e de cavalos e outros desportos (como o futebol) constituíram outros divertimentos que envolviam grandes massas. O rápido desenvolvimento dos meios de transporte (comboio, automóvel, avião) e dos meios de comunicação (rádio, telégrafo, telefone) acelerou o quotidiano das pessoas, favorecendo uma maior mobilidade espacial e do ritmo de vida. A moda de viajar entrou nos hábitos e prazeres das classes médias. Às viagens de negócios acrescentaram-se as viagens lúdicas, de turismo, quer no interior dos próprios países, quer para países estrangeiros, criando-se e desenvolvendo-se novas infra-estruturas para apoio destes lazeres: agências de viagens, serviços de hotelaria, mapas, guias turísticos, bilhetes-postais ilustrados, etc.
Paralelamente a este novo estilo de vida, o período entre as duas guerras mundiais caracterizou-se por uma latente inquietação e instabilidade nos comportamentos sociais. A paz estabelecida pelo Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial (1919), foi uma paz aparente, já que, na Alemanha e na Itália, o nazismo e o fascismo iniciavam a sua caminhada galopante. A crise de 1929 viria a agravar essa instabilidade gerando mesmo angústias e miséria que iriam ter consequências a todos os níveis."
Eric Hobswam, A Era dos Extremos, Editorial Presença
Descreva as principais transformações na vida urbana.