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Uma Família de Camponeses, de Louis la Main (1600-1610)
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Verificámos que, quase por todo o lado, o número de famílias diminuiu. (…) Que lhes aconteceu? A miséria dissipou-as. Debandaram-se para pedir esmolas nas cidades e acabaram por morrer nos hospitais ou pelo caminho.
Já não se vêem, nas aldeias e pequenas vilas, jogos ou divertimentos; tudo aqui desfalece; tudo está triste porque a alegria e o prazer só se encontram na abundância e eles mal conseguem sobreviver.
De facto, já não há camponeses que tenham algum bem como próprio, o que é um grande mal. Um outro mal, muito pernicioso, é que quase não há trabalhadores equipados. Outrora, eles estavam fornecidos de tudo o que era necessário para a exploração das quintas (…). Hoje, só encontramos jornaleiros sem nada (…).
Mas onde se pode conhecer, melhor que em qualquer outro lado, a miséria dos camponeses é nos seus lares, onde se encontra uma pobreza extrema. Dormem sobre a palha; não possuem outro vestuário senão o que trazem vestido e que se apresenta em péssimas condições; não possuem móveis nem qualquer outro equipamento para a vida: enfim, tudo neles representa necessidade.
“Mémoire des comissaires du roi Louis XIV sur la misère du peuple”, in Mémoires des Intendents sur l’ état des Généralités, 1687
- A partir da análise dos documentos, carateriza a sociedade do Antigo Regime, tendo em conta a composição e estatuto das ordens, a hierarquia social e suas expressões nos valores e comportamentos.
De Mafalda Pinho a 13 de Janeiro de 2013 às 20:25
A sociedade europeia dos séculos XVII e XVIII, era uma sociedade de ordens, fortemente estratificada e hierarquizada, com base no nascimento e na função social que cada indivíduo desempenhava. Esta sociedade regia-se pela desigualdade dos estatutos sociais e jurídicos conferidos a cada ordem.
São três, as ordens ou estados em que se divide a sociedade do Antigo Regime: o clero, a nobreza e o terceiro estado (ou povo). Esta estratificação social, mantém vivos muitos dos privilégios e atributos, que se atribuíam às ordens.
O clero, mantém-se como o estado mais digno, porque se encontra mais próximo de Deus. Rege-se por leis próprias (direito canónico) e goza de muitas outras imunidades e privilégios: foro próprio, isenção de impostos, direito de asilo, é detentor de grandes domínios fundiários, recebe o dízimo e, estava ainda, isento de obrigações militares.
A nobreza é, de facto, a ordem de maior prestígio e era uma peça fundamental para o regime monárquico. Estavam-lhe reservados, os mais altos cargos do poder, do exército e da administração, que lhes confere poder, riqueza, ostensão e grande prestígio. O seu estatuto social, dava-lhe grandes privilégios e, portanto, desfrutava de um regime jurídico próprio, isenção fiscal, possuía imensas propriedades e recebia rendas e tributos.
O terceiro lugar, desta sociedade tripartida, é ocupado pelo povo ou terceiro estado. É, de todas, a ordem mais heterogénea, cujos membros tanto podem aspirar às dignidades mais elevadas como vegetar na miséria mais extrema. "De facto, já não há camponeses que tenham algum bem como próprio, o que é um grande mal." ; "Mas onde se pode conhecer, melhor que em qualquer outro lado, a miséria dos camponeses é nos seus lares, onde se encontra uma pobreza extrema. (...) enfim, tudo neles representa necessidade."
Assim, podemos salientar o estrato dos camponeses, o da burguesia (constituído tanto por mercadores como por financeiros - banqueiros e cambistas, por letrados - advogados, notários e, por fim, artesãos, trabalhadores assalariados não qualificados, geralmente, associados ao trabalho barçal)
A sociedade de ordens é, sobretudo, uma sociedade de símbolos. A distinção faz-se através dos trajes (reservando-se o uso de certos tecidos, de certos adornos como a prata, para a nobreza), das formas de saudação e tratamento que se adoptava e a que tinham direito pela sua condição social, (por exemplo: um eclesiástico receberia o tratamento de Sua Eminência, Sua Excelência ou Sua Senhoria, Vossa Mercê ou Dom) A este tratamento correspondia também, um conjunto rígido de regras de protocolo, sendo todos os comportamentos previstos. Mesmo a forma como se apresentavam em público, acompanhados de menor ou maior número de criadagem, dependia da sua posição social.
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