Domingo, 28 de Abril de 2013
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Chegada do General Humberto Delgado à estação de Santa Apolónia, 16 de maio de 1958
Chegados à beira das urnas, eu vos dirijo as minhas mais puras saudações e vos convido a comparecer nas urnas em que se decidirá do futuro da Nação.
Apesar dos assaltos e das prisões; apesar da violência e das agressões; apesar de violarem e encerrarem as nossas sedes; apesar das intimidações, dos insultos e prepotências de que, sempre temos sido passivos; apesar da censura e das injustiças; apesar da censura e das injustiças; apesar de se preparar uma burla eleitoral de que somos vítimas, eu - por tudo e por isto mesmo - vos convido a seguir comigo para o nosso destino comum.
Às urnas, amigos!
Lutemos de forma a desmascarar os traidores e os cobardes, aqueles que cometeram e vão cometer ilegalidades constitucionais, aqueles que são inimigos do povo e dos princípios cristãos!
Às urnas, cidadãos!
Lisboa, 2 de junho de 1958
Proclamação de Humberto Delgado
- Refere o papel desempenhado pela oposição democrática na luta contra o regime autoritário.
Publicado por História às 22:40
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De Joana Aguiar a 5 de Junho de 2012 às 16:15
Anteriormente a candidatura de Humberto Delgado em 1958 já Norton de Matos em 1949 também concorreu às presidenciais mas desistiu à “boca das urnas”, devido a inevitável derrota. Ao contrário de Norton de Matos, o “General sem medo” levou a sua candidatura até ao fim, mesmo tendo consciência que havia uma forte conspiração contra si por parte do regime de Salazar, “Apesar dos assaltos e das prisões; apesar da violência e das agressões; apesar de violarem e encerrarem as nossas sedes; apesar das intimidações, dos insultos e prepotências”.
O facto de haver contestação e afronta ao regime fez com que este fosse perdendo a sua força. Com os congressos de Humberto Delgado e a sua campanha eleitoral fez passar os ideais democráticos a uma parte da população portuguesa que vivia cega pelo autoritarismo, tomou assim conhecimento da necessidade de mudança.
Neste discurso de Humberto Delgado vemos a clara noção de que apesar das adversidades criadas este candidato estava determinado a derrotar o regime, contando com o voto dos portugueses. Com ilustra o documento: “Às urnas, amigos! Lutemos de forma a desmascarar os traidores e os cobardes, aqueles que cometeram e vão cometer ilegalidades constitucionais, aqueles que são inimigos do povo e dos princípios cristãos! Às urnas, cidadãos!”.
Mas como seria de esperar num país pouco desenvolvido, os seus ideias não chegaram a todo a população. E como era de esperar as eleições não foram totalmente neutras “apesar de se preparar uma burla eleitoral de que somos vítima.”
O General não ganhou as eleições presidenciais, mas o regime começava a ruir por dentro.
De Afonso a 5 de Junho de 2012 às 16:19
O final da Segunda Guerra Mundial trouxe o desmantelamento das estruturas do fascismo na Europa. Porém, em Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista, de tipo fascista. Salazar encenou, então, uma viragem política, aparentando uma maior abertura, a fim de preservar o poder.
A liberalização política não passou de uma fachada. Em 1945, os portugueses foram convidados a apresentar listas de candidatura às eleições legislativas (para eleger os deputados da Assembleia Nacional). A oposição democrática concentrou-se em torno do MUD (Movimento de Unidade Democrática). Afinal, tratava-se de uma manobra repressiva por parte do regime, pois não foram asseguradas condições que permitissem a realização de eleições isentas e a apreensão das listas pela PIDE permitiu perseguir a oposição democrática. Por outro lado, em 1949, aquando das eleições presidenciais, a oposição democrática apoiou o candidato Norton de Matos, que concorria contra o candidato do regime, Óscar Carmona. De novo, perante a repressão e a perspectiva de fraude eleitoral, Norton de Matos (que exigia, nomeadamente, a abolição da polícia política, da Colónia Penal de Cabo Verde, da censura, do corporativismo e do regime de partido único) desistiu da campanha.
De todos os movimentos em que a oposição se manifestou, aquele que mais abalou as estruturas do Estado Novo foi a candidatura à presidência do general Humberto Delgado, em 1958.
A sua coragem em criticar a ditadura – patente na célebre frase “Obviamente demito-o”, com que se referiu a Salazar – valeu-lhe o epíteto de “general sem medo”. A sua campanha foi rodeada de um vibrante entusiasmo popular, que as autoridades tentaram, em vão, qualificar de agitação social. Quando o candidato da União Nacional (Almirante Américo Tomás) saiu vitorioso com 75% dos votos, não havia margem para dúvidas de que as eleições tinham sido uma farsa.
Perante a opinião pública, quer nacional, quer internacional, a repressão de um movimento popular genuíno como a campanha de Humberto Delgado desfez qualquer ilusão sobre a pretensa abertura do regime salazarista.
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